Introdução
A intubação orotraqueal (IOT) é amplamente utilizada na prática médica de emergência e em outras especialidades, como anestesiologia e cuidados intensivos. O procedimento consiste na inserção de um tubo endotraqueal através da boca até a traqueia, permitindo a ventilação mecânica do paciente e garantindo a oxigenação adequada em casos críticos. Devido à sua importância, a execução correta da IOT pode ser determinante para a sobrevida do paciente.
Este artigo detalha as indicações clínicas, os preparativos necessários, a técnica da sequência rápida de intubação (SRI) e as principais complicações associadas ao procedimento.
Indicações para a Intubação Orotraqueal
As principais indicações para a realização da IOT estão relacionadas ao risco de falência respiratória ou à necessidade de controle definitivo das vias aéreas. Entre os cenários clínicos mais comuns, destacam-se:
- Incapacidade de manter a via aérea pérvia: Quando o paciente não consegue proteger suas vias aéreas devido a um nível de consciência rebaixado ou obstrução.
- Insuficiência respiratória aguda: Em casos como edema pulmonar agudo, crises asmáticas graves, pneumonia severa ou exacerbação de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).
- Parada cardiorrespiratória: Durante manobras de reanimação cardiopulmonar (RCP), a IOT permite a ventilação eficaz e a administração de oxigênio.
- Escala de Coma de Glasgow (GCS) ≤ 8: Pacientes com rebaixamento importante do nível de consciência apresentam maior risco de aspiração e falência ventilatória.
- Queimaduras em vias aéreas superiores: Pode haver edema progressivo que compromete a ventilação espontânea.
- Intoxicações e overdoses: Algumas substâncias depressoras podem causar paralisia respiratória.
- Trauma grave com potencial comprometimento respiratório: Lesões cranioencefálicas ou torácicas graves podem requerer suporte ventilatório imediato.
Contraindicações da IOT
Embora a IOT seja amplamente indicada em emergências, existem contraindicações específicas que precisam ser observadas:
- Transecção completa da traqueia: Quando há ruptura completa da via aérea, a intubação pode agravar a lesão.
- Obstruções mecânicas severas: Em casos de corpos estranhos impactados, a IOT pode ser inviável, sendo necessária uma abordagem cirúrgica.

Técnica da Sequência Rápida de Intubação (SRI)
A sequência rápida de intubação (SRI) é o método preferido em situações de emergência devido à sua eficiência e à redução do risco de aspiração. A SRI segue os “7 Ps”, uma sequência de etapas que garantem a segurança e o sucesso do procedimento:
1. Preparação (Preparation)
Antes de iniciar a IOT, é fundamental verificar o funcionamento de todos os equipamentos, como o laringoscópio, o aspirador e o ventilador. O mnemônico STOP-MAID ajuda na organização:
- S: Sucção – prepare o aspirador e mantenha-o ao alcance.
- T: Teste de equipamentos – verifique se todos os dispositivos estão prontos.
- O: Oxigênio – forneça oxigenação suplementar ao paciente.
- P: Posicionamento – alinhe o paciente corretamente.
- M: Monitorização – instale monitores de frequência cardíaca, pressão arterial e oxímetro de pulso.
- A: Avaliação da via aérea – estime a dificuldade da intubação com base em fatores anatômicos.
- I: Acesso intravenoso – assegure-se de que o acesso venoso está disponível.
- D: Drogas – prepare os medicamentos necessários.
2. Pré-oxigenação (Preoxygenation)
Administre oxigênio a 100% por meio de máscara facial ou bolsa-valva-máscara para criar uma reserva de oxigênio, reduzindo o risco de dessaturação durante o procedimento.
3. Pré-tratamento (Pretreatment)
O pré-tratamento pode incluir a administração de lidocaína para reduzir a resposta simpática à intubação ou fármacos para prevenir o aumento da pressão intracraniana.
4. Paralisia com indução (Paralysis with induction)
Administre um sedativo, como etomidato, seguido por um bloqueador neuromuscular, como succinilcolina ou rocurônio.
5. Proteção e posicionamento (Protection and positioning)
Garanta o alinhamento ideal da cabeça e pescoço para facilitar a visualização da glote durante a laringoscopia.
6. Passagem do tubo endotraqueal (Placement of the tube)
Insira o tubo com a ajuda do laringoscópio e confirme a posição correta por meio de ausculta pulmonar e capnografia.
7. Pós-intubação (Post-intubation management)
Fixe o tubo, verifique novamente a ventilação adequada e inicie a ventilação mecânica, se necessário.
Complicações Associadas à IOT
Embora seja um procedimento essencial, a IOT pode resultar em complicações imediatas ou tardias. Entre as complicações mais comuns, destacam-se:
- Hipóxia: Pode ocorrer se a pré-oxigenação for insuficiente ou se houver demora na colocação do tubo.
- Aspiração de conteúdo gástrico: Principalmente em casos de falha na sequência rápida de intubação.
- Lesões traumáticas: Lesões nas vias aéreas superiores, como lacerações ou hematomas.
- Arritmias cardíacas: Decorrentes de estímulos vagais durante o procedimento.
- Barotrauma: Relacionado à ventilação inadequada ou pressão excessiva.
- Extubação acidental: Quando o tubo é deslocado inadvertidamente.
Dicas para o Sucesso da Intubação Orotraqueal
- Realize treinamentos periódicos em manequins ou simuladores.
- Familiarize-se com os equipamentos disponíveis no serviço.
- Use dispositivos auxiliares, como videolaringoscópios, em intubações difíceis.
- Tenha sempre um plano de contingência caso a IOT não seja possível, como o uso de máscara laríngea ou cricotireoidostomia.
Conclusão
A intubação orotraqueal é um procedimento vital em ambientes de emergência, exigindo treinamento contínuo e conhecimento das técnicas corretas para evitar complicações. Com a prática da sequência rápida de intubação e a adoção de medidas preventivas, médicos podem otimizar os desfechos dos pacientes e garantir maior segurança durante o manejo das vias aéreas.
Saiba também como interpretar um ECG de forma rápida clicando aqui…